Conto: Jabuticabeira

Uma delícia. Saborosa. Doce. Um cheirinho de deixar qualquer um com água na boca. Foi a primeira fruta do pé de jabuticaba que produziu pela primeira vez. Fazia quinze anos que meu avô a plantara. Coincidência ou não, há quinze anos eu nasci.
            Essa fruta foi presente de meu avô. Ele a trouxe à mão. Mão calejada de uma vida dedicada aos trabalhos da roça. De uma humildade que só quem o conhece a compreende.
            Com a mão esquerda pegou à minha direita, com a outra, deixou rolar a jabuticaba suavemente – mesmo com calos que dedos me faltam para contar – na minha mão.
            – “É fruto de quinze anos de cuidado”.
            Uma frase que resumiu tudo. Que fazia pensar.
            Aquilo não era apenas uma jabuticaba. Trazia ensinamentos. Sim, olhos molhados eram os meus. Um simbolismo a faltar ciência para explicar.
            Toda família reunida disfarçava, por força da timidez, algumas lágrimas que corriam pelo rosto marcado pela alegria do encontro familiar.
            Nem medo, nem egoísmo. Mas desapego. Meu avô dedicara anos de cuidado, paciência e carinho para com aquela jabuticabeira que parecia não querer frutificar. Mas, no tempo certo, floriu pela primeira vez e deu frutos.
            Uma voz do fundo da sala veio como que cortar o silêncio:
            – Todo esse tempo você esperou ela dar fruto vô!?
            Sabedoria. Esta que só as pessoas com humildade e experiência de vida podem ter, respondeu:
            – Se eu tivesse medo de esperar e ficasse desacreditado que ela pudesse florir e dar frutos, talvez não tivesse esta fruta para saborear. Tudo e todos têm seu tempo de florir, de dar furtos. Oxalá descobrissem isso quando jovens.
(conto escrito a partir de uma reflexão de um quadro-mural, que falava sobre jabuticabas. A imagem é meramente ilustrativa, do google)

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